A Casa da Juventude foi uma conquista para juventude da RMR. O espaço foi utilizado como ponto de encontro para discussões e debates sobre propostas de políticas públicas de juventude, além de atividades culturais e de lazer. A experiência de 2005 foi bastante importante para o exercício da participação juvenil que construiu, através de muitos diálogos com ongs e gestores públicos, a gestão, o funcionamento e o financiamento da Casa da Juventude.

20060425

Movimento Pró-Casa da Juventude do Recife.

Conclusão da experiência. A Casa da Juventude do Recife (CJR) foi um exemplo de centro de referência da juventude, funcionando como um espaço de atuação, de convivência e de participação de grupos juvenis organizados das mais diversas formas. Resultante de uma legítima demanda dos setores juvenis organizados, a CJR fora idealizada por jovens do Fórum das Juventudes do Recife, do movimento hip-hop, do Movimento Cultural Boca do Lixo, do Canal M, do programa Círculos Populares, entre outros. Sua implantação e início de atividades aconteceram em março de 2005 através do Consórcio Social da Juventude (parte do Programa Primeiro Emprego do Ministério do Trabalho). O Consórcio consistiu em uma ação integrada entre governo federal e instituições não governamentais com o objetivo maior de inserirem jovens (de 16 a 24 anos, de baixa renda e escolaridade) no mercado de trabalho possuindo como metas: · Incluir, nas ações de qualificações do Consórcio 954 jovens, possibilitando a inserção para o trabalho de 287 jovens. · Estruturar um centro de juventude. Objetivos iniciais pelos quais foi criada a Casa da Juventude do Recife: · Um centro de produção e difusão de informações sobre o mundo do trabalho, as ofertas de emprego para jovens, as oportunidades econômicas para os empreendimentos juvenis. · Um centro de formação (em associativismo, cooperativismo e economia solidária) especificamente dirigido aos jovens. · Um centro de formação em atividades artísticas, especificamente ligadas à música, produção de vídeo, cinema, audiovisuais e comunicação. · Um centro de produção de vídeos, audiovisuais e eventos culturais e artísticos. · Uma feira de venda de produtos artesanais e culturais produzidos pelos jovens. · Um centro de apoio e fortalecimento às atividades das organizações juvenis, incluindo o apoio legal. · Um ponto de encontro e lazer; um espaço de articulação e intercâmbio onde tudo quanto for do interesse da juventude poderá acontecer. Do projeto inicial nem tudo fora realizado, mas a experiência teve a adesão de um número bem maior de grupos juvenis, muitos dos quais intervieram na gestão da Casa. E muitas novas idéias e demandas apareceram a partir desses grupos. Posteriormente como objetivo maior de ser um espaço de constituição e visibilidade dos jovens atores políticos na nossa cidade a CJR foi de muita importância, embora não tenha servido sistematicamente como um espaço de interlocução com o poder público (sendo apenas suprida por algumas reuniões do Fórum e a possibilidade de articulação à garantia de participação das conferências municipais e O.P.). Tinha-se como meta da experiência vivenciada ser um espaço administrado, mantido e coordenado por alguma instância governamental de interlocução direta da juventude, respeitando sua origem, sua experiência e garantindo a participação direta dos grupos/ atores nos processos de decisão. Este anseio ficou registrado durante protesto realizado no Festival da Juventude realizado pelo Governo de Pernambuco, onde a CJR adquiriu um stand onde, além de exibir um texto que explicava o motivo de seu fechamento, lia-se “A Casa da Juventude do Recife está fechada, precisamos do apoio do poder público”. A importância da Casa não se dá apenas pela utilização de espaço físico, mas na possibilidade de integração entre diversos atores; a Casa além de servir aos mais diversos grupos da RMR, foi espaço de atuações que se fortaleceram por causa da integração desses grupos, gerando muitas discussões, debates, eventos, ações voluntárias, intervenções políticas e participação em manifestações públicas, O.P. e conferências. Embora os grupos utilizassem a Casa para os mais diversos fins (esportivos, artísticos, de lazer, político, ecológico, informativo, etc.) lá eles aprendiam uns com outros e dessa forma se cooperavam também; a ação de voluntariado /colaborador/ militante da Casa serviu como um processo maior de integração desses atores envolvidos. A Casa servia de referência não só para jovens que não tinham uma participação política efetiva ou que viviam em grupos protagonistas, mas que eram moradores ou estudantes próximos, que descobriam a Casa através de eventos que eram divulgados (festas, exibição de filmes) e de serviço (como o acesso gratuito à internet) servindo dessa forma como a porta de entrada à participação social e política desses. Após o fechamento da Casa, os grupos ainda não tiveram espaços garantidos para dar continuidade às suas atividades (uma certa exceção é a cooperativa juvenil de vídeo, Gambiarra Imagens, que tem um espaço com horário bastante reduzido para sua atuação no espaço oferecido pelo Centro Nordestino de Medicina Popular, ONG em Olinda, que apóia, entre outras, a realização da CJR). E, com este perfil de órfão, representantes de grupos que atuavam na Casa continuam atuando através de um movimento de reivindicação desta política pública, articulando-se inclusive com jovens do município do Cabo pela experiência na conquista da construção do Centro Jovem, numa parceria da Prefeitura e a Plan (organização internacional que também financiou os quatro últimos meses da CJR). Atualmente temos aqui na Cidade do Recife um grande avanço nas políticas de juventude: uma é a proposta de criação de uma Comissão de Juventude na Câmara dos Vereadores e a outra é a recém-criada Gerência de Juventude da Secretaria de Direitos Humanos. Estas instâncias frente ao retorno do Consórcio Social da Juventude são a esperança de continuar a Casa da Juventude do Recife ao que ela veio: integrando todas as ações, seja ela do MinC, do MTE, da Prefeitura ou da própria juventude, contudo que seja de interesse da juventude e que seja feita com a sua participação, sobretudo tratando-se da gestão do espaço - que se faça então uma gestão compartilhada para garantir que a Casa sirva de inserção não só no mundo do trabalho,mas na inserção da participação social e principalmente na inserção do diálogo com o poder público. Torçamos para que os grupos juvenis que dela necessitam voltem a tê-la como sua Casa. Que sejam bem vindo de volta: o Fórum das Juventudes, a Pastoral da Juventude do Meio Popular, a Rede Jovem do Nordeste, a Rede de Resistência Solidária, o Coletivo Êxito d’ Rua, o Movimento Cultural Boca do Lixo, a AROCKPE, o Canal M, o Coletivo Vidiverso, o Chapéu de Couro, a Gambiarra Imagens, o Centro de Mídia Independente, movimento punk, Coletivo Jovem de Meio Ambiente, entre outros. Façamos com que uma das metas do consórcio seja a realização de um grande sonho de toda a juventude da Região Metropolitana do Recife. E que a CJR, apesar do apoio de diversas organizações, se estabeleça enquanto política pública - esta é a meta de todos que nela atuaram, que a ela apoiaram e que nela viveram. Evandro Sena. Coordenador da Casa da Juventude do Recife durante o ano de 2005.

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